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Romper Padrões como uma Diva



A minha trajetória no universo paralelo chamado Equidade de Gênero, foi um passado bem mais recente do que vocês imaginam.

Então senta com a titia, vou contar uma história bem maneira!!

Eu considero que sobrevivi cerca de 28 anos me ofuscando da realidade das diversidades, discussões de gênero, raça e classe, que assola esse mundão a fora, não estavam nas minhas pautas.

Mas Andrea, como assim se ofuscando, me explica melhor Diva?

Depois de mergulhar no privilégio, que o auto conhecimento me oferece, consegui entender que precisamos de uma utopia, para acreditar que sozinhas somos poderosas suficiente para protagonizar e mudar a própria realidade, a famosa meritrocracia. Vivemos em um mundo criado para homens, cisgêneros, brancos e de posição econômica abastadas, que não proporcionam espaço para nenhuma “minoria”.

Meu nome, poderia ser Diva, como todas vocês da página, mas sou à Andrea Ramos Santos, nascida no dia 27 de abril de 1981, no bairro da liberdade. Para quem é de São Paulo, criada em Itaquera – Cohab II – Extremo Leste de SP, um bairro da periferia, com a comundade expondo as dificuldades da vida na minha porta. Contudo, eu nunca me apropriei da dificuldade e realidade, na minha trajetória, e vou te explicar como.

Tudo começou quando eu tinha 4 anos, morava em um prédio no Conjunto habitacional José Bonifácio, era apaixonada por Barbie e todo o universo lúdico ao redor. Meus pais não tinham condições de comprar as roupinhas tão sonhadas da boneca, foi então que veio o meu primeiro estimulo empreendedor, costurar minhas próprias roupinhas. Eu via um mundo lindo e de possibilidades (não entendam mal, longe de mim esta falando que existe meritrocracia), trazida pelos meus familiares, e ate pela comunidade.

Eles me inscentivavam a tudo que tinha no bairro, peças de teatro colaborativo na vizinhança, oficina cultural, aulas de canto e teatro, e dai por diante, começamos a traçar uma realidade um pouco diferente do que é retratada na periferia.

Com 8 anos, ganhei meu primeiro troféu na feira de ciências da escola, um coração elétrico com ventrilogos e sangue venoso e arterial á mostra.

Aos 12 anos ministrava catecismo e participava do grupo de jovens da paróquia, e nesse momento surgiu uma liderança divas.

Com 15 anos, a emancipação econômica começou a invadir meus pensamentos. O gatilho: precisava de um tênis novo para ir ao colégio, pois o meu já estava deteriorado com o uso, e em casa tínhamos um orçamento estipulado para este tipo de necessidade.

Eu deveria escolher o modelo de tênis de acordo com o orçamento dos meus pais, e para minha surpresa, tinham mais uma questão dessa vez. Meu pai, controlador nato, me falou que independente do orçamento ele iria escolher o tênis. Como diriam os jovens, “Buguei”, como assim, mesmo dentro do orçamento eu não poderia escolher, me senti censurada. Meu pai foi categórico e disse, se quiser diferente compre com o seu dinheiro.

No outro dia conversei com uma moça vizinha de prédio e pedi indicação de onde poderia procurar emprego, ela mencionou, Rua XV de novembro, centro de SP. Éramos cerca de 6 amigas no prédio, eu disse que iria procurar emprego e elas toparam ir comigo e também arriscar uma vaga.

Depois de andar o dia todo, entramos em uma fila para trabalhar no macdonalds, de 50 pessoas ficaram 15, dentre minhas amigas apenas eu, e de 15 ficamos em 3. Foram quase 3 anos, de atendente, treinadora e gerente. Sem dúvida a experiência mais emblemática de toda a minha trajetória. Como diria meu querido superior ARI, aqui não tem raça, gênero e muito menos classe social, somos todos iguais e isso já esta explicito desde o uniforme (um verdadeiro tombo viria).

Do Mc Donalds até o dia em que eu percebi que havia desigualdade no mundo corporativo, foi um caminho um tanto quanto longo. Vamos dar um salto aqui...


Aos 28 anos, depois de muito perrengue, trabalho duro, choro, sacrifícios, cheguei a posição de Relationship Manager em Banco Inglês para gerir grandes empresas que faturavam cerca de 1 Bi de reais por ano. Parecia um sonho, imagina, vim de um lugar onde a palavra CEO nem existia e eu nunca tinha me dado conta disso.

Foi então, que no dia em que eu fui transferida para a tão sonhada área onde o endereço era na luxuosa avenida Brigadeiro Faria Lima, berço do mercado potente financeiro em SP, que eu ouvi uma fala que me soou um tanto quanto pesada. Um Diretor da tesouraria do Banco veio ao meu novo andar cumprimentar meu novo “chefe”, me lembro como se fosse hoje a fala: “Parabéns, e como esta a expectativa com a nova equipe?”, ele com um sorriso sarcástico e um tom de pesar no semblante respondeu, “Você sabe né, pessoal estranho da ZL e ainda por cima tem mulher, eu detesto trabalhar com mulher”.

Eu acredito que levei cerca de 2 meses para traduzir que a fala era misógina e tinha preconceito de classe. Eu não sei explicar o que era pior, viver alienada sem perceber este tipo de coisa, ou se dar conta da questão e perceber que a minha saúde mental iria pro saco.

Pois foi dito e feito, lá iriamos iniciar um período difícil de uma realidade que dói na alma quando você percebe que por ser mulher você perde o bônus, por que é discricionário e seu chefe não precisa justificar quem ele acha que merece, mesmo você tendo batido todas as metas. Aquele Mainterupting onde você fica sem fala e com cara de boba para os demais, aquele cliente que manda o motorista te buscar com uma Mercedes, achando que pode comprar o seu corpo a qualquer preço, aquela hora que você repara que em um departamento de 50 pessoas, tem cerca de 10 mulheres e 7 são secretarias, aquele dia em que você teve uma ideia brilhante e o seu chefe disse que era dele e nem te deu satisfação... e aquele outro dia em que você percebeu tudo isso e decidiu agir. Ahhh mas esse dia precisa ser lembrado - UMA PAUSA PARA EU TER ORGULHO DA MULHER QUE ME TORNEI - afinal de contas quando uma mulher ressurge das cinzas ela vira uma verdadeira Fênix.

Eu tive uma brilhante ideia, em tomar uma iniciativa, que sabia que faria com que eu me destaca-se dentre os meus colegas. O CEO atual criou 3 desafios para os colaboradores da minha área e eu no contente com apenas 1, criei estratégia para alcançar os 3. Foi ai que a guerra estava decretada com o meu “chefe”, me destaquei no primeiro desafio e recebi reconhecimento de 170 diretores na época, o segundo desafio resultou em um jantar com o presidente do banco e o terceiro, um e-mail de encerramento como funcionaria exemplo de toda instituição.

E meu chefe? Ficou feliz pelo desempenho de alguém da equipe? NÃO. Isso foi o suficiente para que me perseguisse dia e noite, em busca de algo que pudesse deslegitimar o meu trabalho.

Esse foi apenas um exemplo, durante anos de carreira e convívio no mercado de trabalho, depois de tantas situações não tem como não perceber a diferença, que mulheres precisam se esforçar muito para serem reconhecidas, que mulheres negras precisa se esforçar três vezes mais e que a masculinidade frágil é uma deficiência terrível, que transforma o homem em uma bomba atômica, sem freio, sem respeito, sem limites.

E ai, o que eu fiz com este despertar todo? Imaginei uma união, procurei histórias de outras mulheres e entendi que para poder mudar a realidade, teríamos que nos unir. Unir em uma luta política, de romper padrões, tendo psicológico e força para manter a classe.

Então temos a DisrupDiva, com seus projetos, tendo como premissa o empoderamento. Podendo, na minha fase adulta, acolher a garotinha que amava moda, empreendedora, da periferia de São Paulo, dando a possibilidade de realizar os sonhos que jamais pensou que poderiam se tornar realidade.


Hoje somos mais de 30 mil super garotas, em prol de um mundo mais justo e inclusivo, sem perder o rebolado e o entusiasmo.


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